Como ir do sofrimento para a felicidade de acordo com Tenzin Wangyal

Tenzin Wangyal é um lama de tradição bom budista. Nasceu em 1961 na Índia, depois que seus pais tiveram que deixar o Tibete devido à ocupação chinesa, ele estudou com vários professores e obteve o título de Geshe, equivalente a doutor em filosofia. Ele também foi reconhecido como a reencarnação de algum grande professor do passado.

Em 1991 obteve uma bolsa para cursar a universidade norte-americana e em 1922 fundou o Ligmincha Institute em Charlottesville (Virginia).

Es autor de vários livros magníficos, alguns traduzidos para o espanhol pela editora Pax de México: As maravilhas das pessoas naturais; A ioga dos sonhos e do sono; Cura com forma, energia e luz; A pura essência da mente; Cure com sons ...

Ele está acostumado a ministrar cursos e retiros em muitos países. Aproveitando a estada em Barcelona para ensinar sobre o "Recuperação da alma" conversamos com ele sobre vários tópicos. Há em sua pessoa um raro equilíbrio entre a fidelidade à tradição oriental e a adaptação à mentalidade ocidental.

Nuvens no céu.

- Existe uma palavra mágica: 'felicidade'. No final das contas, todos nós queremos ser felizes. Mas por que é tão difícil consegui-lo e dura tão pouco?

- Principalmente porque somos condicionados por certos padrões mentais que se repetem. São pensamentos e emoções que causam uma espécie de vício. Estamos tão ocupados com eles que não encontramos descanso nem felicidade. É como se você não pudesse ver o céu porque uma nuvem após a outra o impede. E se você pode ver aquele céu por um momento, logo outra nuvem vem e o cobre novamente.

- A incerteza hoje está ganhando terreno em todas as áreas. Conhecemos as causas externas. Mas quais seriam as causas internas?

- A humanidade está em busca de uma grande resposta, para encontrar a felicidade e a paz. Mas ele busca isso nas mudanças externas que a tecnologia promove. Essa não é a verdadeira felicidade interior. Espero que a humanidade perceba esse erro e haja uma mudança de valores, e que não seja tarde demais.

Como funciona o Karma?

- Existe, então, um Karma não só individual, mas coletivo?

- Assim é. Existem comportamentos coletivos que têm certas consequências. Por exemplo, diz-se que os meios de comunicação só dão notícias negativas, imagens de violência, etc. Diz-se até que "boas notícias não são notícias". Pode ser assim, mas também é verdade que as pessoas se sentem atraídas pelas más notícias, pelos infortúnios alheios, como se assim se sentissem mais vivas. Essa identificação com o negativo é triste.

- "Karma" é uma palavra muito usada, qual o seu verdadeiro significado?

- Literalmente, Karma significa "ação", mas em um sentido mais amplo refere-se à lei de causa e efeito.Qualquer ação realizada física, verbal ou mentalmente torna-se uma semente que dará frutos consequentes quando as circunstâncias forem adequadas. Assim, ações positivas têm efeitos positivos e levam à felicidade; ações negativas têm efeitos negativos e levam à infelicidade. Karma não significa que nossa vida está predestinada, mas que todas as condições presentes surgem de nossas ações passadas.

Comece com você mesmo.

- Em seus ensinamentos fala-se em recuperar a “alma”. É um processo pessoal e coletivo?

Trata-se de se reconectar com a fonte da vida, com as forças que estão dentro de nós e também na natureza fora. São práticas que favorecem o equilíbrio físico e mental. Quando trabalhamos no nível individual, aos poucos há uma influência no coletivo. Mas primeiro você tem que começar por você mesmo, é o mais urgente.

- Afirma que muitas vezes existe uma desconexão entre a cabeça e o coração. Por quê?

- A mente, os pensamentos e emoções dos quais o ego se alimenta, é a principal causa da infelicidade. Mas a mente também pode ser uma causa de felicidade. É como o ouro, com o qual uma bela estátua ou uma pistola podem ser feitas. Práticas como meditação eles servem para ver a essência da mente, não suas manifestações comuns. Descobrir a natureza da mente é um profundo reconhecimento de quem somos. É como um lago de águas calmas. Se você não mover a água, ela ficará cristalina. Mas se você sacudir, fica turvo. Esquecemos que a força está na quietude, não no movimento. Se nos conectarmos com o silêncio interior, ficaremos mais pacíficos e também mais fortes e criativos.

- Qual seria o seu conselho de vida para quem pode não saber nada sobre o budismo ou outras formas de espiritualidade?

- Meu principal conselho seria o seguinte: em qualquer momento da sua vida, principalmente quando se deparar com provas que parecem ir além da sua capacidade, lembre-se de que pode confiar no seu verdadeiro eu, na sua essência. Existe um refúgio onde você pode encontrar paz, mas não está fora de você, mas dentro de você.

As 3 portas.

- Você poderia elaborar mais sobre isso?

- Existem 3 “portas” em nós: o corpo, a fala e a mente. Todos eles podem criar dor e é isso que nos causa sofrimento. Mas acontece assim porque não os usamos para entrar, mas para sair, para nos perdermos, para nos desligarmos.

Quando você encontrar dificuldades, feche os olhos por um momento, chame sua atenção para dentro. Sinta a quietude do seu corpo. Existe então a possibilidade de encontrar um espaço ilimitado dentro de você. Podemos chamá-lo de «mãe», «a essência», «o divino», ... Não importa: está aí, e quando o descobrimos é como quando um filho se perde e de repente encontra a mãe. Como alguém que se perdeu e se reencontra. É uma volta ao lar. Nesse momento, qualquer problema se resolve se você confiar plenamente, se descansar naquele espaço onde encontra a liberdade interior. É um lugar com possibilidades infinitas.

- Por que o silêncio é importante?

- A 2ª «porta» é a palavra, o discurso. Temos muitos pensamentos, que são como vozes vibrando em nossa cabeça e nos dizendo o que fazer. Mas, a menos que essas vozes sejam silenciadas, você não pode sentir a verdadeira conexão consigo mesmo e ouvir o silêncio interior. Normalmente ouvimos o barulho dos pensamentos, discutimos ou negociamos com eles. Nossa atenção está voltada para aquelas vozes que nos impedem de sentir o silêncio. Mas podemos aprender a ouvir e ouvir o silêncio. Ao descobrir isso, você sente paz, criatividade. Você pode então ouvir vozes interiores de sabedoria.

Um bom conselho para isso seria: não confie nos pensamentos, confie no silêncio. Estudos têm sido feitos sobre como tomar decisões melhores: falando e comentando minuciosamente ou permanecendo aberto à intuição. O resultado final é que as intuições são, em última análise, mais eficazes. No silêncio, há mais mensagens do que nas vozes do pensamento. Mas você tem que aprender a ouvir seu próprio silêncio.

Abra para o espaço.

- Qual é, então, a verdadeira mente?

- Dizemos que a terceira porta é a mente. Mas para o budismo, a mente está no coração, não como um órgão material, mas como um centro de consciência. Segundo os físicos, o universo é praticamente um espaço vazio. Também em nosso coração há espaço ilimitado. Prestando atenção ao coração, você pode descobrir aquele espaço que é a fonte que dá origem a tudo.

Portanto, o medicina que eu recomendo consiste em 3 remédios: a pílula branca da quietude, a vermelha do silêncio e a azul da amplidão. Ao tomar estes 3 comprimidos encontra o que chamamos de “refúgio interior”, sente-se protegido e guiado e encontra soluções. E isso funciona para qualquer um, porque esse espaço não é budista, mas universal.

- Todos nós procuramos o amor. Queremos dar e receber. O que você acha disso?

- Nesse espaço interior de que falamos, também encontramos o amor. Não se trata de amor "eu te amo", baseado em desejo ou medo egoísta. É um amor ilimitado e absoluto, no qual não há ódio. É como o céu aberto que ama as nuvens e permite que elas vivam em seu seio. Nuvens aparecem e desaparecem sem afetar sua essência. O espaço não se apropria do que está nele. Da mesma forma, esse espaço interior é o maior processador ou purificador de pensamentos negativos e emoções conflitantes que podemos ter.

- A morte talvez seja o principal medo. Qual seria a atitude correta em relação a ela?

- Não há nada de errado com a morte. É algo normal, como o nascimento. Se olharmos sem preconceitos, seria como tirar uma soneca. Não é uma coisa negativa ou um fracasso. Os budistas acreditam que depois de 49 dias você nasce de novo. Você é o mesmo, mas se torna um bebê precioso. É um processo natural, mas é humano sentir medo. A solução é mais uma vez conectar-se com o ser ou espaço imutável, com a essência que não morre. É apenas um processo corporal, mas você não é apenas algo físico. Não há identidade, você se sente mais livre e sem medo. Quando você realmente vivencia isso, a relação com a morte também muda: você sabe que não vai morrer.

DANIEL BONET. Tradução simultânea: Belén Giner. Revista Mente do corpo.


Deixe um comentário

Seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Responsável pelos dados: Miguel Ángel Gatón
  2. Finalidade dos dados: Controle de SPAM, gerenciamento de comentários.
  3. Legitimação: Seu consentimento
  4. Comunicação de dados: Os dados não serão comunicados a terceiros, exceto por obrigação legal.
  5. Armazenamento de dados: banco de dados hospedado pela Occentus Networks (UE)
  6. Direitos: A qualquer momento você pode limitar, recuperar e excluir suas informações.

  1.   Nusve Modigliani dito

    obrigado por tanta ajuda.
    Essas três pílulas recomendadas devem ser diárias em nossa nutrição

  2.   Ângulo de Graça dito

    muito bom

  3.   Mauricio Perez dito

    Frio. Um texto que traz paz e lembra você de pesquisar dentro de você.